a falta de contexto animal
"Senhoras e Senhores", ela começa. "Faz dois anos que estive nos Estados Unidos pela última vez. Na palestra que proferi naquela ocasião, tinha minhas razões para mencionar o grande fabulista Fraz Kafka, e particularmente sua história ' Um relato a uma academia', sobre um macaco educado, Pedro Rubro, que comparece diante dos membros de uma academia para contar a história de sua vida, de sua ascensão de fera a algo próximo do homem. Naquela ocasião, eu própria me sentia um pouco como Pedro Rubro e falei isso. Hoje essa sensação é ainda mais forte, por razões que espero fiquem claras para vocês.
quando estava procurando uma imagem da capa do "na praia" para o post anterior, vi que o ian mcewan, o salman rushdie e o j.m. coetzee são vetereanos de shortlist para o Booker prize, e acho q os três já ganharam. Acho que o j.m. coetze é o único que já ganhou duas vezes, algo assim.
fiquei surpresa porque nunca tinha ouvido falar de J M Coetzee, mas o livro que li ao mesmo tempo que o "na praia" foi " A Vida dos Animais", de J M Coetzee.
quem me deu A Vida dos Animais de presente de natal há uns 3 anos atrás foi o tiago. Quem já viu o blog do tiago sabe que ele se interessa por assuntos sérios, guerras, deus e um monte de coisas científicas. Por isso não tinha lido até hoje A Vida dos Animais, achando que era um livro de filosofia complicadíssima. E é.
que loucura pode ser a falta de contexto na vida de um animal como eu! li o livro todo encafifando: que jeito estranho de escrever um livro acadêmico, inventando uma senhora fictícia que dá uma palestra! franzi bastante a testa e achei o tema interessantíssimo: Por que temos tanta certeza de que a vida dos animais não é tão importante quanto a vida humana e etc. ? Enquanto lia me senti um pouco macaca por estar lendo em português um livro escrito originalmente em inglês (The Lives of Animals) e pensei se realmente os cães e gatos pensam mas não falam a nossa língua, essas coisas.
agora, sabendo que A Vida dos Animais é literatura: que jeito estranho de escrever a história de uma senhora, fazendo o livro parecer um tratado de filosofia! O livro ganhou nobel de literatura. Talvez pela esquisitice mesmo. Deve ser meio o equivalente aquele "questionamento do suporte" de arte. Nunca pensei que literatura também tivesse aquela coisa de arte, que alguém - de preferência o artista - precisa apontar como arte, falar "É.", se não não é.
parece que Mr. Coetzee cria essas confusões com frequencia. Saiu livro novo dele agora: "Homem Lento", com alguma complicação também (a mesma velhinha da palestra aparece do nada e vira guru de um homem que perdeu uma perna, algo assim). Gostei do título "homem lento"... vou dar uma olhada no primeiro parágrafo. Tenho medo de ser alguma trip tipo Ítalo Calvino, do livro dentro do livro dentro do livro. Acho que metalinguagem está com tudo, mas chuto que hoje em dia dá para fazer metalinguagem de algum outro jeito, sem causar tontura. Talvez J M Coetzee possa entrar para minha lista de "trabalhos pelados", de estruturas aparentes, tomara.
A capa do A Vida dos Animais tem uma pintura bacana do Rodrigo Andrade que deve ser do começo dos anos 90. E a capa do homem lento de quem é? Fábio Miguez?
Putz, fui olhar e não é Rodrigo Andrade, é Fábio Miguez! de 89. A outra capa que eu pensava que era do Fábio Miguez, de quem será?
Coetzee, J. M. , 1940 - A vida dos animais ; São Paulo, Companhia das Letras, 2002
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